quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

As Artes Plásticas e a Produção do "Viveiro de Pássaros"

Durante o segundo semestre de 2011, nossas aulas de Artes Plásticas foram focadas na produção do figurino e cenário da peça "Viveiro de Pássaros".

O resultado foi excelente e, então, resolvemos registrar aqui este belo trabalho do Prof. Guilherme em conjunto com as crianças da Teia.

Publicamos abaixo alguns textos do Guilherme, o registro geral das aulas, além de fotos desse processo com cada turma.


"Que a arte é um modo de pensar a vida e o mundo por caminhos próprios fica muito claro em momentos decisivos de sua história. O cubismo de Picasso, um deles; o dadaísmo, outro; Duchamp, um terceiro, bem evidente. Em outros momentos, em virtude da repetição, da familiaridade estabelecida com certas obras que não abandonam nosso imaginário (Mona Lisa, Impressão ao sol nascente), esse pensamento não parece hoje mais tão evidente – e, no entanto, estava lá, em ação. (…)

Houve um tempo em que as pessoas inteligentes usavam a arte para pensar, parafraseando Philip Roth a respeito da literatura. As pessoas inteligentes hoje usam a arte como modo de pensar? Em todo caso, a arte pensa. Mas, quando e qual arte pensa, hoje? Não basta dizer que o modo de pensar próprio à arte, o icônico, é um dos processos de relacionamento da mente com o mundo e que, portanto, é automaticamente um modo de pensar. A arte hoje realmente pensa? Paulo Francis dizia que o cinema não pensava – ou não pensava mais. Provocação, como freqüente nele. Também para Francis, pelo menos algum cinema pensava, embora certamente não a maioria. Não deixou de dizer, em outras palavras, também, que a arte contemporânea ou certa arte contemporânea não pensava. Quando a arte pensa, hoje?"

(COELHO, Teixeira: Por que arte: entre a regra e a exceção)

“A Arte tem de insistir em ser modo de pensar”. É partindo dessa provocação levantada por Teixeira Coelho que a área de conhecimento em Artes tem como principal objetivo instigar a criança a pensar o mundo através dos elementos que permeiam o universo artístico, tanto na sua produção quanto na sua fruição. É sobre esse eixo central que se sustentam os processos a serem desenvolvidos durante o ano, que serão apresentados e introduzidos: técnicas, instrumentos, estilos, artistas, obras e diferentes maneiras de produção artística".
(Guilherme Marinheiro)



Turma 1

Em continuação às investigações de materiais, texturas e formas, experimentamos alguns materiais dando foco na escultura, que culminou na criação dos bichos das florestas, componentes do espetáculo "Viveiro de Pássaros". Pensei que esses bichos deveriam ser todos pequenos e brancos, no mesmo tom de branco das árvores, se mesclando e misturando a elas, formando uma paisagem única. A ideia é que esses bichos se revelassem de forma sutil, através do olhar curioso e próximo, possível principalmente com a entrada do público (instalação inicial). Para tanto, trabalhamos os bichos da floresta, quais são, as peculiaridades de habitat, alimentação, tamanho, reprodução, locomoção. Pretendeu-se, com isso, instigá-los a experimentar, através da escultura, uma representação concreta de como percebem os habitantes da floresta.







Turma 2

Dando prosseguimento ao foco de estudo sobre as diferentes formas de narrativa, trabalhamos no segundo semestre com as fábulas da cidade e as fábulas da floresta. Foram exploradas fábulas clássicas e também as menos conhecidas, como as do realismo fantástico de Ítalo Calvino, por exemplo. Com isso objetivou-se criar um repertório (ou apenas refrescar na memória) para que eles mesmos sejam estimulados a fabular, a inventar suas próprias histórias. Utilizamos diversas dinâmicas, explorando a representação e significação visual, que culminou no trabalho cenográfico referente às árvores e banco do espetáculo "Viveiro de Pássaros". Pretendeu-se explorar os dois signos colocando em contato os universos: fábulas da floresta (árvores) X fábulas da cidade (banco). Para o espetáculo, foi programado ainda com essa turma, a confecção de alguns acessórios das personagens do espetáculo capazes de potencializar as discussões sobre esses dois universos.







Turma 3

As cores continuaram sendo o foco de estudo também no segundo semestre. As técnicas e discussões levantadas anteriormente sobre as características e propriedades das cores puderam agora ser exploradas na prática através da confecção dos principais acessórios das personagens do espetáculo "Viveiro de Pássaros". Tentamos entender durante os experimentos a importância das cores para a significação das diferentes formas de expressão de cada integrante da história. Para essa turma ficou programada ainda a experimentação da intervenção final do espetáculo, em que as cores invadem a cenografia significando a liberdade e a vida conquistada e retomada pelos pássaros. Sabendo que os interventores seriam de outras turmas, principalmente do T6, os alunos do T3 fizeram apenas as experimentações prévias, para escolha da melhor forma de aplicação de cor ao cenário, por coincidir com o foco de estudo deles.



Turma 4

Continuamos no segundo semestre com os estudos referentes ao bidimensional e ao tridimensional. Iniciamos com a apresentação e discussão dos diferentes espaços cênicos: caixa preta (palco italiano), arena, semi-arena e espaços alternativos. Foi proposto então a criação da planta-baixa do cenário "Viveiro de Pássaros", que foi utilizado posteriormente pelo T5 (confecção de maquete). A turma seguiu então para a segunda etapa: a confecção de todas as asas das personagens do espetáculo. Com isso objetivou-se explorar na prática a escultura e a pintura, a modelagem e o desenho, o volume e o plano, dando concretude a esse importante signo do espetáculo - a asa - como condição de liberdade e metáfora da forma de viver de homens e animais.



Turmas 5 e 6

A partir da planta baixa desenhada pelo T4 a turma confeccionou uma maquete da proposta de cenário do espetáculo "Viveiro de Pássaros". A maquete serviu de base para a continuação dos estudos sobre luz e sombra. Nela foram experimentadas possibilidades de iluminação para posterior desenho de luz final do espetáculo. Para o T5 a proposta era a confecção das gaiolas e os experimentos da sombra que as mesmas formam no chão, criando espaços de encenação e deslocando, através desse signo, o olhar do espectador por entre suas conexões: gaiolas X sombras X pássaros X humanos. Para o T6 a proposta era o desenho do mapa de iluminação, percebendo a luz essencialmente como criadora de tempos e espaços, além da operação da mesma durante as apresentações. Para ambas as turmas, T5 e T6, fizemos um trabalho com as texturas da natureza que culminou na gravação da vídeo-instalação do espetáculo. Para tanto marcamos uma ida ao Parque da Água Branca para captação de sons e imagens da natureza que compuzeram a ambientação cênica (projeção no cenário).





Figurinos
(produzidos em conjunto com os alunos):

Maritaca





Urutau



Exploradores (Cientistas)



Caçadores




Animais da Floresta (Jacaré)


Cardeal




João de Barro



Rendeira



Canário


Martin Pescador


Pinduca



Manduca




Gato Guloso



Pica Pau


Em breve, vamos divulgar também um pouco do lindo processo que aconteceu nas aulas de Música, aguardem!




Um comentário:

  1. Foi como despertar ideias em sono profundo, como reavivar artistas esquecidos, ou suspensos, ou mesmo desconhecidos, foi como colocar um ritmo, uma música e observar de longe uma única dança coletiva, formada pelas singularidades dos passos.

    Uma vez provocadas, as crianças deslocaram prazerosamente o olhar para o universo temático e formal do espetáculo, absorvendo e recriando cada qual o seu "Viveiro de Pássaros". O que vimos, portanto, nas apresentações, não foi simplesmente "O" espetáculo, mas "ALGUNS" espetáculos, ou seja, os próprios dizeres de cada criador sobre ele.

    Já não são os mesmos. Foram afetados e afetaram, gerando a partir do encontro a experiência, essencial ao fazer artístico e ao aprendizado. Parabéns a toda a equipe Teia, parabéns aos pais, mas especialmente a cada uma das crianças criadoras!

    Sucesso nos caminhos!
    Afetuosamente,

    Guilherme Marinheiro.

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